sábado, 28 de julho de 2012

À procura do meu lugar


Há muito tempo venho refletindo sobre a necessidade que muitos têm de se sentir – ou talvez apenas se afirmar – cada vez mais à esquerda no espectro político. Esse comportamento quase sempre leva a posições no mínimo equivocadas quanto à capacidade do governo brasileiro de implementar políticas que beneficiem só, e tão somente só os menos favorecidos. É claro que numa economia globalmente interligada e financiada por uma rede “apátrida” de bancos, não é possível fazer um único gesto que envolva financiamento, investimento ou gasto que inviabilize a obtenção de lucro – seja ele direta ou indiretamente vinculado a essas instituições.
A utopia socialista deve permanecer como horizonte, mas o mundo real não nos permite o luxo da ingenuidade, e já de pronto explico porque usei esse termo, utilizei-o porque não há no mundo quem hoje possa governar independente dos arranjos e acordos firmados pelas grandes entidades globais (G8, G20, U.E, UNASUL e afins). É como acreditar que tudo aquilo que papai sonha para casa e seus filhos pudesse realizar-se independentemente das condições materiais do mundo que nos cerca. Impossível! O mundo melhor que queremos (e eu também quero um mundo mais justo e menos desigual) só será construído a partir da ação individual de renúncia aos valores da dominação, da aquisição supérflua e da liberdade sem responsabilidade consequente.
Vivemos num país que se construiu baseado na desigualdade e no privilégio e não será sem a quebra desses paradigmas que iremos avançar na direção de um futuro melhor. É imperioso lembrar que esses vícios são seculares e não serão debelados ao tempo de nossas vidas. O Brasil que quero está por fazer-se porque ainda não se descobriu, ou pelo menos não se reconhece. Não percebe o quanto avançamos porque não distingue a utopia, da realidade: a primeira imaginada e a segunda a ser construída cotidianamente. Não somos mais o país do “você sabe com quem está falando?” e do “deixa pra lá que não vai dar em nada”, ou será que tudo o que se descobre e se investiga nesse país é obra de ficção? Tentam fazer-nos acreditar que a corrupção é uma novidade trazida pelos governos petistas, o que não é; tentam desacreditar as instituições em favor de nomes, de personagens. Ora, pessoas são entidades efêmeras, passageiras; instituições são entidades representativas da sociedade, permanentes e que devem ter caráter impessoal. Se ainda não têm, somos nós que devemos fazer com que venham a ter para que assim nos sintamos por elas representados.
Sinto por trás de muitos discursos “esquerdistas” um descompromisso com a construção do país que queremos. Digo isso porque se a denúncia e o protesto são atitudes cidadãs, a construção efetiva da democracia que queremos também é, e não pode esperar a substituição dos governantes pra que ela se inicie, correndo o risco de verem-se novamente decepcionados (se o raciocínio que desenvolvi no primeiro parágrafo estiver realmente correto) e órfãos os tão ultrajados “progressistas”. Tenho por todos, indistintamente, o respeito devido a todo ser humano, estejam eles em que espectro político estiverem, e tenho principalmente o prazer do debate e do convívio, sem o qual tudo o mais se torna tão somente maniqueísmo e intolerância. Quero vencer a desigualdade perversa e o lucro indecente, mas estou convencido de que quem os promove hoje não são aqueles a quem queremos atribuir toda a responsabilidade, ainda que boa parte recaia natural e justamente sobre os mesmos. Tenho fé na mudança, mas não espero pela sua realização, busco fazê-la cotidianamente e creio que meu trabalho seja a melhor forma de denunciar aquilo tudo contra o que eu luto.
Ser de esquerda hoje – no meu modesto entendimento – é resistir criativamente a um crescente fetichismo que transforma tudo em objeto de compra e que faz da capacidade de consumo o índice que mede a qualidade de vida e o grau de satisfação da população mundial. Resistir criativamente significa estar mais tempo no seu lugar próprio, junto aos seus e menos exposto à angústia da falta de pertencimento que é retroalimentada no consumo, seja ele de bens e serviços, seja ele da indústria farmacêutica que está pronta a servir-nos da primeira à terceira idade.

domingo, 1 de julho de 2012

Semana Nélson Silva

Há momentos que marcam uma passagem de um estado a outro e não voltamos mais a ser como éramos. Esses últimos dois dias foram de intenso prazer e de uma infindável reflexão. Tudo o que pudemos vivenciar, ver, ouvir e compartilhar me faz crer ainda mais na força que tem o "Encontro" daqueles que vivem a Cultura Popular. Não somos poucos, nem somos apenas... fazemos viva a nossa história e vivemos por isso.
Há que se ter muita fé nesse Lugar-próprio para não se deixar seduzir pelo Lugar-outro que espetaculariza, tendencia e deforma o que somos. Continuemos assim... Obrigado a todos os que me antecederam.

domingo, 10 de junho de 2012

Me sinto só, tanto quanto posso me sentir assim. Um sentimento de solidão não é de fato incomum pra mim, porém, do modo como ele veio nesses dois últimos dias eu não esperava que acontecesse. Mas não é hora de reclamar, o mundo não pára pra me esperar, ninguém pára até que eu esteja pronto pra seguir, então sigo mesmo sem estar pronto, mesmo sem estar seguro, me fazendo enquanto sigo, me equilibrando enquanto sinto.
"É melhor ser alegre que ser triste", mas agora não dá!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

uma coisa qualquer...

"Quem é do mar não enjoa...
Se eu pudesse realizar qualquer sonho
qualquer desejo ou qualquer capricho,
seria bom que o mundo se preparasse
pra ser melhor com todos
mais justo e menos bruto
mais limpo e menos cruel
Pra gente querer mais mundo
e menos céu"

domingo, 13 de maio de 2012

Três anos depois


O SENTIDO DA FALTA

            A angústia que uma perda ou uma falta nos traz, leva sempre à indagação sobre o sentido que possa haver por trás do fato em si. Mesmo que uma resposta a contento seja encontrada, ainda assim, o vazio persiste e a angústia não cessa. Haveria de fato um sentido? Ele seria unívoco ou relativo? Sobram questões, mas faltam respostas, pois quando o mundo parece desabar sobre nossas cabeças, nenhuma palavra comporta um sentido possível. Estamos frente ao indizível! Tudo pode ser pensado, tudo pode ser vivido, mas nem tudo pode ser dito, e nesse caso não é por opção, discrição ou desejo de manter silêncio sobre algo tão íntimo que não haveria porquê dividir. Não se trata disso. É que não há palavra que dê conta de expressar a falta, quando ela é falta de sentido.
            Se a falta de sentido não comporta explicação, procuremos então descobrir se é possível encontrar um sentido para a falta, um sentido para esse acontecimento petrificante.
            Somos dotados de racionalidade, adquirimos experiência durante a vida e temos a capacidade de antever fatos e circunstâncias possíveis, mas - a despeito de todo esse arcabouço sob o qual poderíamos nos resguardar – ainda assim somos tomados pela perplexidade diante de um fato natural, tão natural e corriqueiro como o ato de respirar. A morte é para todos os animais, apenas mais um fato da existência, o ato final de uma série de atos não programados e apenas possíveis de acontecer; enquanto este é inexorável, imparcial e inquestionável do ponto de vista biológico. Todos morreremos. E porque nós humanos, com toda a capacidade de elaboração que desenvolvemos, nesse caso somos os menos adaptados e os que mais sofrem diante do acontecimento?
            À parte as elaborações religiosas e as explicações científicas, tudo o que nos acomete quando estamos diante da morte se resume na mais profunda falta de sentido, numa dor cortante que parece seccionar um membro que não havíamos dado conta da sua existência. Foi assim comigo. A perda da minha Mãe foi como uma amputação, uma mutilação; mas não foi um corte físico, foi muito mais a sensação de perda da substância (o que existe por si e em si) a partir da qual a minha própria existência seria justificada. Posso buscar eternizá-la pelos meus atos, pela minha disposição de seguir seus ensinamentos ou até mesmo me dedicar exclusivamente a cultuar a grandeza da sua existência, mas não posso desligar o momento da perda, não há como apagar o choque da constatação. Não foi uma morte anunciada, esperada; nem houve quem delicada ou diretamente me desse a notícia. Fui eu mesmo que diretamente, tive de viver o momento mais marcante da minha existência. É imperioso dizer: Nem mesmo a visão de minha primeira filha nos seus primeiros momentos me marcou tanto!
            Seria bom simplesmente acreditar numa vida além desta, numa possível e provável recompensa eterna pela ações praticadas, mas… quem ela se tornou logo após? Permaneceu minha mãe e manteve as características físicas? Permanecerão as mesmas qualidades morais, os mesmos atributos? Seu tempo-próprio estará livre do tempo objetivo que aqui nos mantém? Compreenderá a mudança de estado e a conseqüente mudança de perspectiva? Não ter do que ou de quem cuidar; não ter o quê ou quem esperar? Não estou em busca de respostas sobre a falta que me acomete, mas sobretudo, desejando entender o que significa ainda hoje aquela Existência, onde estaria o Ser daquela que um dia foi a pessoa fundamental. Este Ser não está em mim, e nada do que eu faça – ainda que seja uma cópia fiel do seu agir natural – será a expressão do seu Ser, pois ele nunca esteve acessível a mim ou a qualquer outra pessoa, e mesmo que assim fosse, permaneceria sendo um Ser a parte do que eu sou.

domingo, 26 de junho de 2011

Mestre Nacional

2011 tem sido um ano de perdas muito significativas para o mundo da Capoeira, dentre elas, uma tem muito a ver com a minha história: Mestre Nacional! Um Mestre que conheci ainda menino, acompanhei durante o meu desenvolvimento, tive o prazer de tê-lo presente numa de minhas graduações, recebê-lo num evento meu (aliás, recebi uma ligação do mesmo, no ano anterior, se desculpando por não ter podido vir... coisa rara, pois naquela época eu era apenas um garoto de 21 anos e muita vontade de trilhar um caminho na Capoeira). Felizmente pude frequentar o Quilombo Nagô e sentir a energia contagiante daquela bateria... uma aula de ritmo! Quem esteve por lá sabe do que estou falando. Obrigado Mestres Medeiros, Harley e Nacional. Força Mestres Ephrain e João.
Hoje, último domingo do mês é dia de Roda no Quilombo!!!

domingo, 1 de maio de 2011

O Ritual

Filmaço!!!
Anthony Hopkins é o cara!!! Desconheço um filme com ele que seja mais ou menos; é só pedrada! De quebra Alice Braga pra encher os olhos dos marmanjos... o filme é realmente muito bom.
Mas não é sobre isso que quero falar, ou melhor, escrever. Bem, a questão fundamental que ficou na minha cabeça é: "Você só pode manter algum tipo de relação com aquilo em que você acredita". Fé é acreditar naquilo que não se pode ver, que não se pode tocar, que não há como provar (pelo menos no momento em que acontece). O sobrenatural sempre provocou espanto e admiração, e a relação que mantemos com ele nem sempre pode ser descrita como racional, mas daí não decorre que seja desprovida de sentido, aliás, me lembro da afirmação do grande professor de Estudo Comparado das Religiões, o Zwinglio, que dizia: "Ciência é pra explicar, Religião é pra dar sentido!"
Tenho um enorme interesse pelo fenômeno religioso, a despeito de não ser seduzido pela sua prática (que quase sempre se converte em egoísmo explícito). Busco a compreensão, não a Graça, penso mais naquilo que podemos fazer do que nas coisas que estão além das nossas possibilidades de realização.

Ah! Me lembrei do Gil
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos, os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na Terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu coisa melhor
Prá quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão, só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus, só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na Terra a gente tem
De arranjar um jeitinho prá viver
Muita gente se arvora a ser Deus e promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido prá Maria, e promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem, meu sertão continua ao Deus dará
Mas se existe Jesus no firmamento, cá na Terra isso tem que se acabar


Mas que o Anthony Hopkins é o cara, disso eu não tenho dúvida!!!