domingo, 21 de fevereiro de 2010

Tijuca

Uma escolha, uma renúncia...

E a vez da Tijuca chegou! Chegou e - contestações à parte - foi um espetáculo aquele desfile! Aliás, não é esse o adjetivo que enche de orgulho todos os que admiram o Carnaval carioca? “O maior espetáculo da Terra!”. E foi ciente disso e dotado de uma percepção singular que Paulo Barros brindou público e jurados com um verdadeiro show!

O excesso que caracteriza essa festa às vezes nos impede ou até mesmo nos impossibilita de analisá-la como um todo. Não tenho ciência de outro lugar onde uma festa dê ensejo a tanto exercício de imaginação... Quantas escolas de samba existem espalhadas pelo Brasil? Quantos novos enredos são apresentados a cada ano? Quantas releituras? Quantos bons sambas não chegam ao conhecimento dos espectadores, eliminados nas disputas? Sinceramente, é de arrepiar...

Voltando à festa carioca, penso que o adjetivo “espetáculo” tenha surgido espontaneamente como um elogio adequado àquela manifestação popular de sambistas e desfilantes adornada por alegorias e música de grande expressividade, mas com o tempo ele se sobrepôs à espontaneidade e transformou-se em condição sine qua non da festa. A plástica foi aos poucos se sobrepondo ao canto e ao ritmo (vejamos os esforços empreendidos nos últimos tempos para resgatar o canto e imprimir um ritmo adequado aos desfiles através de exaustivos ensaios) e assim pudemos perceber que o elemento “Carnavalesco” foi assumindo uma importância desproporcional em relação a outras figuras responsáveis pelo sucesso de um desfile. Remunerados a peso de ouro são disputados como peça fundamental para o sucesso das agremiações e passaram a se estabelecer como paradigmas na história dos desfiles. Paulo Barros ao que parece está fadado a ser o novo paradigma do carnaval das Escolas de Samba. E isso é bom?

Na minha modesta opinião: Sim! Não pelo que aponta como caminho, porque acredito ser muito singular pra ser copiado, mas pelo desafio que impõe aos demais, afinal o samba e por conseqüência seus movimentos correspondentes, são expressões de resistência da cultura negro-brasileira e a mesma consiste e recriar-se sem perder a sua essência. Reconheçamos: A Tijuca é uma escola que canta! E me parece que canta porque há correspondência entre o que a comunidade busca(va) (um título) e aquilo a que a escola se propõe realizar (enredos inusitados e estética próprios), ou seja, encontrou seu modo específico de fazer carnaval, algo novo que se harmonizou perfeitamente com o tradicional chão da escola!

Será que se a Tijuca ainda hoje encarnasse Mitavaí conseguiria êxito? Seria ótimo para os ouvidos, poderia ser belíssimo para os olhos saudosistas, entretanto, parece haver uma fórmula para se fazer carnaval que não é vista com os mesmos olhos em se tratando de escolas “Grandes” ou “Pequenas”. Há enredos que são vistos como próprios de escolas “tradicionais”, outros de escolas com grande poder financeiro... e que não devem ser buscados pelas demais. Há os enredos alternativos que podem se encaixar ao perfil das escolas que pretendem tão somente se manter no Grupo e que não permitem grandes ousadias na sua execução. Enfim, fórmulas prontas que geralmente não são postas à prova. A Unidos da Tijuca deu uma guinada sem precedentes ao sair de um enredo clássico (Agudás) para uma aventura carnavalesca de um estreante nos desfiles do Grupo Especial. Insistiu, persistiu na fórmula mesmo após a sua saída e foi brindada com o campeonato na sua volta.

Não seria esse título da Tijuca um estímulo às demais escolas para buscarem enredos e carnavalescos identificados com suas características ou que indiquem novos caminhos possíveis para as mesmas? A escola do Morro do Borel superou duas grandes potências dos carnavais patrocinados se valendo do seu chão e de sua “nova” estética. Não sei se teria o mesmo sucesso se tivesse buscado um enredo patrocinado como Grande Rio e Beija-Flor, ou se retomasse a linha de enredos clássicos e profundos. Se o “o inocente Barreto não sabia...”, a Tijuca compreendeu que além do “talento” seria necessário ter ousadia pra poder “pisar o chão da Academia”.

Parabéns ao Borel! Agora eles podem gritar a plenos pulmões:

“Maldito bicho, se me ouviu

Se não gostou do meu samba

Vai pra longe do Brasil”