quinta-feira, 31 de maio de 2012

uma coisa qualquer...

"Quem é do mar não enjoa...
Se eu pudesse realizar qualquer sonho
qualquer desejo ou qualquer capricho,
seria bom que o mundo se preparasse
pra ser melhor com todos
mais justo e menos bruto
mais limpo e menos cruel
Pra gente querer mais mundo
e menos céu"

domingo, 13 de maio de 2012

Três anos depois


O SENTIDO DA FALTA

            A angústia que uma perda ou uma falta nos traz, leva sempre à indagação sobre o sentido que possa haver por trás do fato em si. Mesmo que uma resposta a contento seja encontrada, ainda assim, o vazio persiste e a angústia não cessa. Haveria de fato um sentido? Ele seria unívoco ou relativo? Sobram questões, mas faltam respostas, pois quando o mundo parece desabar sobre nossas cabeças, nenhuma palavra comporta um sentido possível. Estamos frente ao indizível! Tudo pode ser pensado, tudo pode ser vivido, mas nem tudo pode ser dito, e nesse caso não é por opção, discrição ou desejo de manter silêncio sobre algo tão íntimo que não haveria porquê dividir. Não se trata disso. É que não há palavra que dê conta de expressar a falta, quando ela é falta de sentido.
            Se a falta de sentido não comporta explicação, procuremos então descobrir se é possível encontrar um sentido para a falta, um sentido para esse acontecimento petrificante.
            Somos dotados de racionalidade, adquirimos experiência durante a vida e temos a capacidade de antever fatos e circunstâncias possíveis, mas - a despeito de todo esse arcabouço sob o qual poderíamos nos resguardar – ainda assim somos tomados pela perplexidade diante de um fato natural, tão natural e corriqueiro como o ato de respirar. A morte é para todos os animais, apenas mais um fato da existência, o ato final de uma série de atos não programados e apenas possíveis de acontecer; enquanto este é inexorável, imparcial e inquestionável do ponto de vista biológico. Todos morreremos. E porque nós humanos, com toda a capacidade de elaboração que desenvolvemos, nesse caso somos os menos adaptados e os que mais sofrem diante do acontecimento?
            À parte as elaborações religiosas e as explicações científicas, tudo o que nos acomete quando estamos diante da morte se resume na mais profunda falta de sentido, numa dor cortante que parece seccionar um membro que não havíamos dado conta da sua existência. Foi assim comigo. A perda da minha Mãe foi como uma amputação, uma mutilação; mas não foi um corte físico, foi muito mais a sensação de perda da substância (o que existe por si e em si) a partir da qual a minha própria existência seria justificada. Posso buscar eternizá-la pelos meus atos, pela minha disposição de seguir seus ensinamentos ou até mesmo me dedicar exclusivamente a cultuar a grandeza da sua existência, mas não posso desligar o momento da perda, não há como apagar o choque da constatação. Não foi uma morte anunciada, esperada; nem houve quem delicada ou diretamente me desse a notícia. Fui eu mesmo que diretamente, tive de viver o momento mais marcante da minha existência. É imperioso dizer: Nem mesmo a visão de minha primeira filha nos seus primeiros momentos me marcou tanto!
            Seria bom simplesmente acreditar numa vida além desta, numa possível e provável recompensa eterna pela ações praticadas, mas… quem ela se tornou logo após? Permaneceu minha mãe e manteve as características físicas? Permanecerão as mesmas qualidades morais, os mesmos atributos? Seu tempo-próprio estará livre do tempo objetivo que aqui nos mantém? Compreenderá a mudança de estado e a conseqüente mudança de perspectiva? Não ter do que ou de quem cuidar; não ter o quê ou quem esperar? Não estou em busca de respostas sobre a falta que me acomete, mas sobretudo, desejando entender o que significa ainda hoje aquela Existência, onde estaria o Ser daquela que um dia foi a pessoa fundamental. Este Ser não está em mim, e nada do que eu faça – ainda que seja uma cópia fiel do seu agir natural – será a expressão do seu Ser, pois ele nunca esteve acessível a mim ou a qualquer outra pessoa, e mesmo que assim fosse, permaneceria sendo um Ser a parte do que eu sou.